Essa semana ouvi mais um executivo lamentar que tem ficado mais tempo em videoconferências, lives e digital meetings. Está trabalhando muito mais do que antes. (detalhe – antes ele já dizia que não tinha tempo pra nada. Então como está trabalhando mais, se já não tinha tempo?! Até onde sei, o tempo é inelástico.)
Não sabe o que fazer com a filha de 5 anos que está em homeschooling (nome gourmet pra dizer que a escola está fechada e a filha está tendo que aprender pela internet).
Obviamente a criança ainda não tem autonomia suficiente para aprender sozinha e precisa do apoio do pai desde se conectar até interpretar e executar as tarefas, que até então eram dele(ar)gadas à professora.
A garotinha abre a porta do home office do papai (que deveria se chamar ‘bunker’) para pedir apoio E atenção. Imediatamente o executivo diz no seu modo mais automático – “Já te falei que estou trabalhando, agora não posso”.
Detalhe – pré pandemia ele já fez aqueles retiros sabáticos, cursos de autoajuda, MBA em uma instituição galática, coaching, terapia, acupuntura, aula de tênis, etc e etc. Já escreveu dezenas de vezes que a coisa mais importante na sua vida é a família. Será? Já que é tão orientado ao resultado, tão pragmático, eu faço um convite para fazer um cálculo % do tempo investido com sua filha ao longo da semana.
“Mas Rogério, é muito fácil dizer, vem aqui pagar minhas contas”.
De fácil, esse cenário não tem nada. Me peguei dentro dessa situação anos atrás e por isso me motivei a escrever esse texto.
Você leu o acima, se identificou e se incomodou. E agora está dizendo – ‘é isso mesmo consultor, vem aqui resolver com sua varinha de consultoria’. Bom, se você está incomodado(a), lhe convido a continuar lendo. Se não estiver, talvez já tenha superado essas questões que frequentemente nos desafiam no ambiente de trabalho.
Para você que continua daqui em diante, vamos lá! Quero reforçar que sou totalmente empático ao seu cenário e confesso que já cometi muitos erros prejudicando a mim e à minha família. Na época não conseguia ver com clareza e tampouco admitir.
Em 2008 tomei uma decisão arrojada. Abri mão da minha carreira em uma multinacional europeia e me dediquei ao negócio de consultoria, pensando que estaria livre de todas as minhas amarras. Precisei de poucos meses para perceber que tinha me livrado de um chefe e ganhado vários simultaneamente.
Transformei minha vida, das pessoas que trabalhavam comigo e da minha família em outro estresse. Tudo em nome da eficiência, alavancagem do negócio e melhorias das margens. Afinal eu já havia sido um ‘executivo de sucesso’ e agora tinha que ser um ‘empresário de sucesso’.
Resumindo, não estou jogando pedras. Apenas estou lhe provocando, como gostaria de ter sido provocado.
Estudando Neuroliderança (neurociência aplicada aos comportamentos de liderança) comecei a encontrar respostas diferentes. Mais do que isso, passei a me fazer perguntas diferentes. Veja bem, não são verdades absolutas, mas são diferentes daquelas às quais fomos condicionados e mal percebemos que estávamos num labirinto sem aparente saída.
O cérebro ‘vem instalado’ com duas emoções básicas – medo e prazer.
O medo é para garantir a sobrevivência. (1) Na dúvida, foge ou ataca. É por isso que a maioria já parou de ler o texto e nem chegou até aqui. É por isso que aquele executivo pediu pra filha sair do quarto. Ele não tem consciência, mas está com medo. Medo sobre o que seus colegas de trabalho irão pensar se ele sair da reunião para atender a filha. Medo de perder o controle do time – “e se todos resolverem dar atenção aos seus filhos no meio da chamada virtual?”
No fundo vivemos com medos.
Trata-se de uma questão biológica- temos medo de mudar! Não pela mudança em si, mas temos medo de não conseguirmos nos adaptar à mudança.
Por isso é que queremos fazer um home office, no mesmo formato em que estávamos no “office office”. Lá não havia garotinhos pedindo ajuda, cachorro latindo, vizinho fazendo reforma, almoço para preparar.
Queremos soluções para novas questões, mas não queremos mudar!
Vou fazer uma ponderação. Atenção: é apenas uma ponderação! Não é receita! Há casos e casos.
No nosso negócio fomos pegos de surpresa, como a grande maioria. Tem gente no nosso time com filhos pequenos, que mal conseguem entender o que está acontecendo. O(a) cônjuge tem chefe como nosso amigo executivo acima. Por isso morre de medo da filha mostrar a cara na telinha. Vai levar um “X” nas costas. Sair da ‘call’ para acudir a filha?! Nem pensar!
Por isso, naturalmente, nosso cotidiano foi se ajustando com às demandas emergentes.
Flexibilidade total na agenda. Se você prefere trabalhar a noite, pois as crianças estão dormindo, estamos mutuamente disponíveis uns para os outros, pois somos empáticos pelas situações individuais. Não é momento para regras rígidas!
Será que não é chegada a hora de nos vulnerabilizarmos um pouco (3)?
É preciso ter consciência (4)e coragem para querer mudar!
Revisitemos nossos propósitos. Questionemo-nos – “para quê?”. Confiemos mais – a confiança é a pressuposição da intenção positiva do outro (5). Incentivemos a colaboração, com propósito + confiança + regras simples.(6)
“Rogério, isso é tudo muito Poliana”.
Não – isso é neuroliderança.
Tente – é libertador!!!
Rogerio Babler
Rogério Babler
Pai do Matheus, marido da Katia
Sócio e Diretor Geral da mhconsult
Sócio do Instituto de Neuroliderança
Fontes:
(1);(2); (4); (5) Instituto de Neuroliderança – Carlos Diz
(3) O Poder da Vulnerabilidade – Brené Brown
(6) Co.Experience – mhconsult
thiago.
Como está a segurança psicológica de sua organização?
17, dezembro, 2020Gratidão
26, novembro, 2020Você quer mudança? E você está disposto a mudar?
29, setembro, 2020
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